domingo, 29 de julho de 2012

Mais um mistério sobre o Universo

Imagine uma manhã no Rio de Janeiro, todo mundo saindo de casa e o Cristo redentor já não está mais lá.
Algo parecido aconteceu em um sistema estelar localizado a 456 anos-luz da Terra. Era uma espécie de Sistema Solar em formação com nuvens de gás e poeira em torno da estrela TYC 8241 26521 com forte emissão de infravermelho. Em apenas dois anos a emissão caiu cerca de 30 vezes. Isto deveria durar milhões de anos para acontecer e teria de ser de forma bem gradativa. Neste curto intervalo de tempo, poeira e gás em uma área equivalente ao nosso Sistema Solar, que eram abundantes no entorno desta estrela, simplesmente desapareceram. Algo muito estranho aconteceu. Pode ser um fenômeno desconhecido ou teremos de rever toda a teoria de formação de Sistemas Planetários.

 Criação artística do antes

 Criação artística do depois


O Satélite Astronômico de Infravermelho IRAS vem acompanhando o brilho desta estrela por 25 anos sem notar alterações. Porém a partir de 2010 o telescópio espacial de infravermelho WISE percebeu uma rápida alteração e o telescópio Gemini no Chile confirmou os resultados.


IRAS


A pesquisa publicada na revista Nature chocou a comunidade científica e mostrou mais uma vez aquilo que já afirmei por aqui. Realmente sabemos muito pouco sobre o Universo que nos cerca. Tentar desvendar este mistério será um trabalho interessante para a turma de astrônomos e pesquisadores desta área.

WISE
Gemini South no Chile

quinta-feira, 26 de julho de 2012

O mito do moto-contínuo

O moto-contínuo ou moto-perpétuo seria uma máquina que geraria mais energia do que consome, funcionando para sempre de forma autônoma. Essa sobra de energia poderia ser usada para outras finalidades.
É relativamente comum se acreditar ter a receita para o moto-contínuo. Alguns já me contaram seu segredo e pediram sigilo absoluto. Não acredito que esteja traindo este pedido ao falar do assunto aqui, até porque esta quimera é uma das mais antigas da humanidade e foi sempre muito popular.
Como são já várias pessoas as quais tento convencer do absurdo sem sucesso, vou tentar com este post trazer um pouco mais de luz sobre o tema.
Desculpe meu amigo, mas não resisti.
O filme brasileiro Kenoma de 1996 retrata as frustradas tentativas de Jonas e Lineu na busca pelo tão almejado moto-perpétuo. Em um lugarejo do nordeste a luta pela conversão de um moinho em um moto-contínuo chega às raias da loucura.
Na idade média muita gente se dedicou a esta busca e Leonardo da Vinci já declarava sua impossibilidade.
Normalmente os projetos são de uma roda com pesos que se movimentam conforme a mesma vai girando, dando a falsa impressão que o movimento dos pesos acrescentaria uma força a mais que manteria o dispositivo rodando sem parar.
A falha na idéia está relacionada às leis da termodinâmica e de conservação de energia, nas quais a energia não pode ser criada, ela pode ser transformada, mas jamais criada a partir do nada.
A fusão e fissão nucleares convertem matéria em energia, respeitando a equação deduzida por Albert Einstein E=mc² (energia igual a massa vezes a velocidade da luz ao quadrado). A matéria deixa de existir, é convertida em grandes quantidades de energia. O sol, os reatores nucleares e as bombas A e H geram energia descomunal desta forma. Já o moto-contínuo pressupõe a geração espontânea de energia, o que não é possível.
A obra de ficção de Isaac Asimov, Os Próprios Deuses, conta como Frederick Hallam encontrou um elemento químico impossível de existir no nosso universo, e dessa forma descobriu um universo paralelo. Essa descoberta permitiu a Hallam construir a “Bomba de Elétrons” que através da troca de matéria entre os dois universos gerava energia infinita para a Terra.
Voltando para a realidade, o que se propõe com a idéia da mítica máquina esbarra no fato de um dispositivo girante ter atrito e assim perder energia na forma de calor, mesmo que a energia mecânica não seja aproveitada.
Encontrei um sujeito que vende no Mercado Livre um dispositivo que economizaria combustível no carro da seguinte forma: a energia elétrica da bateria faz eletrólise separando o oxigênio do hidrogênio e este é injetado junto com a gasolina para a queima nos cilindros. Pois bem, a queima do hidrogênio gera água. Mas é a água que é novamente dividida pela energia da bateria, que é gerada pelo alternador, que por sua vez é girado pelo motor. Em suma um moto-contínuo físico-químico. Tentei sem sucesso argumentar com o vendedor, que segue vendendo o produto “milagroso”.
Já uma balela milionária é o Ron Scorpion, um carro superesportivo que faria o mesmo levando o carro a 300 km/h e fazendo 20 km/l. Essa é de matar, os espertos cobram 150 mil dólares para reservar o carro que ainda será fabricado. Só acredito vendo, mas duvido de qualquer sucesso. Aliás, tenho visto diversas vezes anúncios de lançamento futuro de carros que fariam mais de 25 km/l. E é sempre conversa fiada.
Tentar dissuadir as pessoas do intento de construir um moto-perpétuo, visando a que elas não desperdicem seu precioso tempo nesta idéia infrutífera pode ser questionável, uma vez que os inventores muitas vezes têm de fugir dos catedráticos e céticos para inovar, porém as leis da física não podem ser burladas.

 A máquina de Da Vinci

A do filme Kenoma 






sexta-feira, 20 de julho de 2012

Bagdad Café

Noite deliciosa é no Bagdad Café. Estivemos ontem novamente para nossa alegria!
Nas quintas rola a Noite Árabe, onde mais de 10 dançarinas se apresentam com a dança do ventre e outras danças típicas. Por isso só vamos nas quintas.
O ambiente é agradável, íntimo, quase familiar, mas rola a sedução das dançarinas que sustentam o olhar de maneira provocativa enquanto rebolam os quadris de forma enlouquecedora.
A música árabe é exótica e frenética. Em pouco tempo entramos no embalo e saímos dançando em fila indiana pelo meio das mesas, todo mundo de mãos dadas, como se fossemos velhos amigos.  A mulherada adora e o teor machístico acaba sendo relativamente baixo.
O dono, Adnan, nos recebe sempre com um sorriso no rosto e faz a festa, é um show man. Aniversariante é festejado e rola champagne de cortesia para todo mundo.
No Bagdad nos sentimos importantes, pois somos tratados como reis ... quer dizer ... como sultões em um harém.

Reserve mesa com bastante antecedência, chegue em torno de 21h00, vá num grupo misto com mulheres e homens e divirta-se como ninguém. Não é lugar para paquera ou azaração, é um lugar para curtir com os amigos. Pode levar criança sem problemas, desde que não sejam muito pequenas.
É uma experiência única e inesquecível numa casa pequena e aconchegante que vale a pena conhecer e revisitar sempre que bate a saudade.

O Bagdad Café mudou, fica agora na Rua Padre Anchieta, 262 - Mercês - Curitiba/PR - (41)3336-2421.







Adnan: Não me importo muito com o dinheiro, o negócio é se divertir.

Ciência?

Eu adoro sebos. Conheço quase todos em minha cidade e em algumas outras por aí a fora.
Hoje com a internet e a estante virtual, confesso que tenho um pouco de preguiça de ir para a rua a procura de um bom livro. Mas nada substitui o prazer de encontrar aquele livro que se está procurando há tempos, ou ainda a descoberta de algum livro que fale sobre um assunto que me interessa. De certa forma sinto saudades dos tempos pré internet, dos sábados de manhã em que fazia minha peregrinação pelos sebos e livrarias do centro de Curitiba, aproveitando para tomar um café e descontrair.
As grandes livrarias estão tomando conta do mercado literário das grandes cidades e tenho a impressão de que estão ficando todas com a mesma cara, com o acervo da moda, de certa forma, com o lixo literário de leitura fácil. Sei que os títulos em português são limitados, perto do mercado em inglês ou espanhol. Mas ler nestas línguas não proporciona o mesmo prazer, embora seja um exercício para o domínio das mesmas.
Os sebos, ao contrário, são como seleções do que há de melhor, pois os donos geralmente só compram o que realmente tem valor, e acabamos encontrando verdadeiras relíquias por preços bem moderados.
Acho divertido o fato de que existe na maioria dos sebos uma estante ou seção chamada de Ciência. Você vai encontrar de tudo lá, menos ciência. Na verdade encontram-se nestes locais as pseudociências: ufologia, cristais, Atlântida e todo tipo de baboseira, nada com comprovação científica, que possa seriamente ser chamado de ciência.
Engraçado? Nem tanto, isso mostra que existe um interesse grande por esse tipo de, vamos dizer, ... leitura.
Este tipo de material normalmente é de péssima qualidade. Tive a pachorra de ler algumas páginas de diversas publicações deste tipo, encontrei muitas afirmações e “verdades” que não possuem o menor fundamento, são colocadas sem cerimônia ao gosto do autor.
O brasileiro Lourivaldo Peres Baçan, por exemplo, publicou mais de 900 livros e livretos, muitos como escritor fantasma, usando pseudônimos, até com o gênero trocado. Escreveu sobre os mais variados assuntos: romances, erotismo, palavras cruzadas, charadas, passatempos, literatura infantil, passatempos infantis, horóscopos, esoterismo, simpatias populares, rezas, orações, intenções, anjos, fadas, gnomos, elementais, amuletos, talismãs, estresse, manuais práticos, religião e livros de bolso com os mais diversos temas, além de letras para músicas.
Sem querer retirar dele o mérito de tal feito, imagine o conteúdo de algumas destas publicações chamadas de ciência.
Distinguir ciência verdadeira de imitação barata pode dar um pouco de trabalho, mas a realidade é muito mais interessante que a ficção.

quarta-feira, 18 de julho de 2012

As relações humanas

Nas relações humanas, aos poucos escolhemos aquelas que se tornam permanentes. Existe então um momento a partir do qual é como se um elo se formasse no mais profundo de nosso interior que é forjado na forma de inquebrantável laço. Porque nesse afeto que sentimos existe compaixão, sem a qual o afeto é como o aço não temperado, que não é forte nem duradouro.
Passamos então a gostar do que esta pessoa gosta e a compartilhar com ela tudo aquilo que apreciamos.
E nada abala esta relação, nem as decepções, nem as diferenças, nem os inconvenientes que possam advir desta convivência.
Amizades fortes, mesmo que tenhamos perdido o contato por décadas, se renovam de súbito com o reencontro, de forma tão intensa como no passado.
Estas relações é que dão sentido à vida.
Dinheiro, conforto e sucesso são coisas ótimas, mas basear nossa vida neste tipo de coisa é um equívoco que pode ser percebido apenas às portas da morte, tornando nossas vidas um desperdício.
O amor que compartilhamos com alguém a quem elegemos para nossa parceria tem estas nuances. Um histórico de alegrias e tristezas passa a solidificar a relação. Os nossos erros, fraquezas e imperfeições são diluídos na aceitação pelo outro e nos sentimos gratos por isso assim como sentimos compaixão na situação recíproca.
O resto pode ser importante, mas não é essencial.
O problema todo é que muitas vezes não percebemos isso a não ser quando realizamos todos os “sonhos” em uma busca desenfreada, esquecendo durante a jornada de dedicarmos tempo, amor e sorrisos aos que nos são caros.

terça-feira, 10 de julho de 2012

O lado escuro da Lua e o balanceio

O lado oculto da Lua, também conhecido como o lado escuro da Lua, imortalizado pelo rock progressivo do Pink Floyd no delicioso álbum The Dark Side of the Moon (uma referência ao lado sombrio do homem), não é realmente escuro. Só de vez em quando.

Esta característica do nosso satélite natural não é uma coincidência cósmica, vamos falar de coincidências outra hora.
Mas afinal o que é esse lado oculto da Lua?
A resposta é que a Lua sempre mostra a mesma face para nós, então o outro lado, o que não vemos, é o lado oculto. Este é um fenômeno relativamente comum no Universo, deve-se às forças físicas envolvidas em um sistema unido gravitacionalmente e que possui marés. A Lua estabilizou-se assim, como diversos satélites naturais no sistema solar. Estes satélites apresentam sempre a mesma face voltada para os seus respectivos planetas, é a chamada órbita síncrona.
Até a missão soviética Luna 3 em 1959, desconhecíamos como era este outro lado. Devido ao pioneirismo os nomes russos ficaram comuns nas formações do lado escuro, como por exemplo, o Mare Moscoviense. Este lado se mostrou muito diferente do lado visível: as imagens mostraram um relevo totalmente diverso dos vastos mares do lado visível, o vulcanismo de basalto ficou restrito a poucos lugares e pequenas regiões no lado escuro da Lua, que tem a crosta dominada por regiões montanhosas. Um mundo totalmente diferente daquele que é visto da Terra.
Claro que a causa da assimetria entre o lado escuro e o lado visível é um interessante mistério científico.
Para os céticos de plantão que negam a ida do homem à Lua, o satélite LRO (Lunar Reconnaissance Orbiter) lançado em 2009 transmitiu imagens que mostram até os percursos das pegadas que o homem deixou por lá.




Lado oculto







A teoria de consenso entre a maioria dos pesquisadores é de que a Lua se formou a partir do impacto de um proto-planeta com a Terra e os fragmentos dessa pancada que entraram em órbita da Terra acabaram aglutinando-se e formando o nosso satélite. Acredita-se que nessa época a Terra girava 6 vezes mais rápido do que hoje, o que deixava o dia com apenas 4 horas. A Lua estava bem próxima da Terra e as marés eram gigantescas. O efeito das marés causa atrito das águas com o fundo do mar, este atrito gera calor. Então o efeito de causar calor, que acaba dissipado, freia o movimento de rotação da Terra. No início, este efeito era muito mais forte pela proximidade. Com o afastamento da Lua as marés diminuíram e o efeito também diminuiu, mas ainda assim o intervalo do dia terrestre está aumentando de aproximadamente 0,02 segundos por século.
Quando a Lua não era geologicamente morta, havia também marés por lá e estas marés acabaram freando a Lua até a rotação parar completamente (em relação à Terra). O afastamento da Lua se explica pela lei de conservação de energia, o momentum do sistema Terra-Lua tem de ser mantido.
O lado “escuro”, então, não é escuro de fato, ele só está oculto da nossa visão.
Na lua nova ele fica totalmente iluminado e somente na Lua cheia é que fica realmente escuro.

Ok, agora você poderia pensar que vemos aqui da Terra apenas 50% da superfície lunar. Mas na verdade vemos 59%, devido a um efeito chamado Libração. Este balanceio ocorre tanto em longitude como em latitude.
Existem três componentes na Libração lunar:
- A libração em longitude ocorre em função da excentricidade da órbita lunar, o que provoca flutuações de velocidade de translação e, por isso, podemos ver um pouco mais da superfície lunar a leste ou a oeste da posição intermediária.
- A libração em latitude ocorre em função do eixo de rotação da Lua não ser exatamente perpendicular ao eixo da órbita Terra-Lua, o que faz com que os dois polos se inclinem alternadamente para a Terra, possibilitando ver mais um pouco da superfície lunar em torno deles.
- A libração paraláctica se deve à mudança do ponto de observação ao longo do dia, em função do movimento de rotação da Terra (o deslocamento do nosso ponto de observação do nascer ao pôr do sol).
Estas 3 razões são responsáveis pela Libração Ótica.
Existe ainda uma Libração Física, muito pequena, resultante das oscilações da rotação da Lua (a Lua possui rotação considerando um referencial fora da Terra).


Simulação da Libração

Composição real da Libração