quarta-feira, 11 de maio de 2011

Caminhada matutina

Acordei assustado. A mulher já vestida para levar a filhota ao colégio e eu na dúvida, ruminei por uns 10 segundos: vou ou não caminhar com ela?
Me visto rápido, coisa de homem, que não sabe o que é maquiagem ou roupa combinando.
Em 4 minutos estou com a chave do carro descendo e a mulher se enrolando na cozinha.
No trajeto, garoa fina e a saudade da cama.
Deixamos a preciosa na escola e vamos caminhar na praça. Tem assistência para terceira idade e o pessoal da prefeitura todo atencioso com as velhinhas. Meia dúzia de esportistas somando tranquilamente quatrocentos anos ou mais.
Começamos a caminhada no ritmo da digníssima, que parece o de um taxista aloprado e já em 20 minutos estou suando e a perna doendo, mas não posso demonstrar fraqueza, afinal o macho é dominante, o sexo forte, o elemento que conduz.
Quando estou maquinando alguma desculpa para dar uma parada sem manchar minha honra, o velhinho, que deve ser uns 30 anos a mais de rodagem, e que começou a andar junto conosco, começa a correr. É o fim da picada, agora não posso parar mesmo! Começo a ter palpitação, a patroa olha desconfiada e eu disfarço, olhando as árvores e comentando sobre a beleza da santa no alto do campanário.
Mas quando é que isso vai acabar?
A danada cada vez mais determinada e eu contando as voltas para me distrair, a perna já começa a tremer descontrolada.
Quando finalmente ela diminui o ritmo, tenho medo de parar de repente e ter uma síncope. Vou parando aos poucos, disfarçando minha falta de ar, faço de conta que quero continuar, mas sem muita determinação. Vai que ela resolve fazer isso mesmo?
Agora vou ficar a semana inteira com as pernas duras e ela nem desconfia que podia ter ficado viúva. Na próxima vez fico dormindo. Homem não precisa de caminhada, isso é coisa de mulherzinha.