quinta-feira, 21 de junho de 2012

Ivy e o fim da humanidade

Lá pelo fim dos anos 80 e início dos 90, quando eu estava terminando meu curso de engenharia eletrônica, estudamos os processadores, cujo representante mais poderoso era o 486. Um processador de computador inicialmente era construído com válvulas e posteriormente com o advento do transistor, surgiu a idéia de colocar vários transistores em uma mesma pastilha de Silício (hoje chamada de Die). Um transistor, em informática funciona como uma chave, que diz se é sim ou não, ou ainda se é zero ou um. Esta informação simplória é a base da álgebra booleana que foi e é o pilar da computação. Pois bem, o 486 era um processador da Intel que tinha 1,2 milhão de transistores em 1,2 cm² de Silício. Poderosíssimo para a época, já fazia maravilhas e eu me perguntava quando chegaríamos a um bilhão de transistores por Die. A Lei de Moore (Gordon Moore era presidente da Intel em 1965 quando a “promulgou”) deixava claro que um dia isso iria acontecer. A lei de Moore profetizou que o número de transistores em uma pastilha de Silício (integração) dobraria a cada 2 anos. De todas as profecias que esse mundo já viu, esta foi uma que realmente funcionou ao pé da letra.

O computador que tenho em casa, comprado há uns dois anos, é um I-5, o mesmo possui um processador com mais de 700 milhões de transistores. Este processador de 4 núcleos é da primeira geração, em seguida saiu o de 2ª geração (Sandy Bridge) que chegou a 995 milhões de transistores (por pouco!) e agora com a 3ª geração finalmente rompemos a barreira de um bilhão com o Ivy Bridge, que já pulou para 1,4 bilhão de transistores em uma pastilha de 1,6 cm². Essa escala de integração é de quase 1 bilhão de transistores por cm² e só foi alcançada com o uso de litografia em 22 nanômetros.



Ivy Bridge

Esta evolução nos processadores me lembra da velha questão: As máquinas substituirão o homem algum dia? Sem dúvida nenhuma! De certa forma isso já acontece. Eu trabalho com máquinas que diminuem em muito a participação do ser humano no trabalho. E a cada inovação elas precisam de menor quantidade de pessoas. Passamos a fazer atividades mais nobres, como projetar, construir, manter e operar estas máquinas que executam efetivamente o trabalho. Mas chegará o dia em que outras máquinas também farão isso? Tudo aponta para uma resposta positiva. Aparentemente estamos criando o monstro que irá nos devorar. Parece-me (e eu estou longe de estar sozinho nesta idéia) que a única maneira de perseverar a longo prazo é nos mesclarmos com as máquinas.
Esta idéia, que a princípio pode parecer repugnante e bizarra, tem as suas virtudes.
A miniaturização dos dispositivos já permite fazer alguma coisa, como uma visão rudimentar para os cegos, exoesqueletos simplórios, peças mecânicas substituindo ossos através de implantes etc. Extrapolando esta idéia, o céu é o limite!
Imagine ter um banco de dados inesgotável em sua cabeça. Acesso imediato a qualquer informação on line, sem uso de qualquer dispositivo externo. Algoritmos para processar uma imensidão de dados da forma que quisermos. Comunicação sem celular (quase telepática). Realidade aumentada, que é um conceito em que informações são disponibilizadas conforme você se move e conforme suas preferências: promoções em lojas ou restaurantes pelos quais você passa; informações sobre conhecidos que estão nas proximidades ou pessoas com os mesmos gostos pessoais e até pessoas disponíveis para relacionamento ou para uma rapidinha, tudo isso aparecendo sobreposto ao cenário, como uma tela translúcida.
Isso é uma visão bem limitada do que virá e mesmo assim é uma vantagem competitiva da qual ninguém iria querer ficar de fora.
E se esse tipo de coisa se tornar indesejável basta desligar tudo com um comando mental. Seremos ainda senhores da situação, obviamente.


No futuro, provavelmente seremos muito máquinas, mas ainda muito humanos. Desejaremos com certeza preservar a condição humana, porém seremos muito mais eficientes. E não pense que estes implantes serão muito invasivos, eles o serão tanto quanto o desejarmos ou permitirmos que o sejam. Provavelmente nos sentiremos tão confortáveis com eles, como nos sentimos com um automóvel, um smartphone ou um tablet.
As decisões serão muito mais coerentes e teremos muito poder.
Em um futuro muito distante é difícil prever a que ponto chegaria essa integração.
Não iremos lamentar este tipo de coisa, desejaremos avidamente!

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